Meu Mentor


"A Janela Aberta" de Henri Matisse

Um som. Uma nota. Acordes que atravessam as entranhas. A dualidade – e responsabilidade – de ser matéria e energia. Não é no livro do tempo que escrevo minha vida. São folhas perdidas, muitas vazias, muitos rabiscos. Eu tive um bom professor.

Houve um dia em que pensei estar definhando. A luz do ambiente mudou quando me lembrei de você. Meu olho se encheu d’água. Quando te conheci você me recriou do pó. Eu me tornei esse homem que sou por sua causa. Não lhe culpo pelos meus erros, nem lhe credito pelos meus acertos. Mas a forma com a qual lidei com ambos – isso é um mérito que confiro a você. 

Sei que hoje está longe. Ou talvez nem tanto. Mas provavelmente não tem aquela urgência de cuidar da gente, de chegar na janela só pra saber se tá tudo bem. Pois eu digo que está tudo bem. O que me faz acreditar que você existe além do que já existiu não é discutível. É a minha fé de saber que está ajudando outras pessoas – por que sua alma é boa demais – que me traz alegria. Pois é quando penso em você que os sentimentos mais puros da minha infância retornam em enxurrada. E acreditar em você é mais sólido que qualquer outra coisa na minha vida, é minha crença.

Você me ensinou muita coisa. E é incrível saber que se não fosse por você, eu provavelmente teria feito escolhas extremamente opostas. Não sei se as fiz corretamente, entretanto. Porém estou certo de que meu caráter você ajudou a formar. Hoje há você nos meus livros, nas minhas músicas, em tudo.

Sinto falta de notícias mais regulares, confesso. Não é mais com tanta frequência que acordo de uma visita sua, com aquela fadiga de viagem longa, com os nervos à flor da pele, como se houvesse experimentado o êxtase. Eu me lembro sim da última vez em que me visitou; acordei com aquela certeza estúpida de que você me mandara perseguir os meus sonhos, nunca largá-los. Só fiquei na dúvida se era Deus ou você mesmo, mas isso não vem ao caso.

Agora não preciso, mas gosto de atualizações. Ainda não me disseram se você está com ela, embora alguns estejam certos disso. Qualquer dia desses me conta se sua filha está bem, se já lutou contra o Golias, se já descobriu as respostas que ela tanto ansiava em vida, se já aprendeu a voar. Meu coração aperta, ainda há uma incerteza, uma dúvida, uma preocupação esquisita. Não é a mesma paz. E você sabe que por aqui não vamos acalmar enquanto não sentirmos a mesma paz que sentimos em relação a você.

baru

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