Iceberg em repouso


Foi meio que um processo. Comecei paradão, sem vontades, sem anseios, sem culpa. Cada dia entrava debaixo de um lençol diferente, até ficar bem opaco. Mas já era um pouco de desespero. Eu queria que me vissem daquele jeito, e estava cada vez mais descascado, mais vulnerável, mais exposto.

Era um rebuliço, um caldeirão de reações. Aquele clichê de "sou um poço de complexidade". Não é simples nem descrever isso. E nada saía de mim. Batia na parede e voltava pra dentro. Batia e voltava. E isso começou a ficar mais rápido, constante, forte! Mil balas ricocheteando eternamente procurando uma saída pra luz. Luz essa que nem eu enxergava de fora...

O que mais me aflige é que quando a usina explodiu, eu não estava com o pé no chão; aterrissei aos poucos, presenciando os destroços lentamente. Absorvendo o que restou. E ainda ousei decolar novamente. Sou o retrato da estupidez.

Eu quero algo diferente pra esse ano. Quero assumir mais a minha vida, coisa que minha amiga mandou-me fazer em 2008 (perdoe-me pelo atraso), com aquele tom de ordem mesmo, não de moralismo. Quero poder me entregar de novo, e puta merda, como isso é difícil! No fundo eu penso que se eu conseguir me entregar de novo vou enjoar do mesmo jeito e preferir a solidão, sempre a solidão. Ah, faço-me rir. No fundo acho que não vou conseguir me entregar de novo, e essa verdade está bem consolidada – e até então eu estava lidando bem com ela, juro – e vivo atualmente num mundo só meu e de algumas pessoas cujo passaporte data de tempos antigos. Resumindo toda essa prolixidade enojada: preguiça de conhecer gente nova... entende?

Quero ver se me torno uma pessoa madura também. Eu me sinto a pessoa mais imatura do mundo em relação aos meus amigos, que já estão formando, que já estão ganhando dinheiro, que já estão com a vida encaminhada... E uma amiga me disse outro dia que precisa de coragem pra viver do jeito que eu vivo, fazer as coisas que faço. Não sei onde ela viu coragem em iceberg frágil esse que sou, que só permanece sem afundar por uma lei da física, não por competência, não por atitude – por natureza apenas. É o cúmulo da mediocridade. E é por isso que eu quero maturidade. E se não der pra forçar, quero fingir. Quero imitá-los. Por que o que eu enxergo é que dessa forma as coisas fluem e pronto.

E eu que quero até ter um filho, e criá-lo no campo, longe do estresse metropolitano? E eu que sonho conhecer Florença... Que sonho em escrever um livro.

Meu conformismo me assusta. Preciso de um Titanic.