Amigo da Morte


Meu primeiro encontro com a morte foi real. Não aquela tragédia que eu lia e esperava - com ansiedade quase doentia - que acontecesse. Não era só a inevitabilidade que me perseguia; era a ignorância. A ignorância de não saber o que havia além.

Esse ano a perda de uma ex-colega de classe, que estudou comigo tanto tempo, foi novamente efetiva: a juventude não tem poder. A juventude é tão frágil quanto o isopor. Disseminada e pouco densa. Pois morte é pra todos.

E está em tudo. Antes do sofrimento e depois da dor. Com amor ou sem ódio. As vezes é sutileza artística.

Mas é igual, sempre.

E eu sinto que o tempo passou e todos amadureceram e eu não. É aquela constatação do tempo, sabe?

Todavia, tem coisa que transcende. E onde eles estiverem, eles olham por nós. Se amamos em vão ou não, é importante que os amemos então. Isso cruza as barreiras. Isso e outras coisas.

Luz é onda e não precisa de matéria pra se propagar. E antes que chegue a hora de recebê-la, eu tava pensando: pra quê tanta resistência, meu Deus. Se tiver que ser, me faça aceitar. Eu rezo é pra ter essa paz de espírito.

Eu quero ser amigo da morte.