Raízes Rasas



Colocar qualquer pensamento na sua direção me faz querer extravasar por meio da escrita. É uma fagulha, uma coisa elétrica que percorre meu corpo do dedão do pé ao indicador. Uma ânsia estranha. Não, não é nova. Mas ainda é estranha. Apaixonar-se é sempre um mistério. Aos 23 anos de idade - novo - aprendi mais uma valiosa lição: não posso prever o amor. Não posso escrever um algoritmo para ele, baseado em experiências passadas. Não dá pra viver de heranças. As experiências anteriores, se pá, nem se repetem, nem são válidas. Muitas vezes são tão diversas que representam o contrário do contrário; ações iguais provocam resultados diferentes. 

Nessa mais recente tentativa eu fiz algumas previsões, como venho fazendo a cada derrocada e a cada degrau. Escrevi mentalmente postulados que pensei serem sempre verdadeiros. Surpreendi-me novamente. Agora sei, cada dia é diferente. Não é o mesmo sol. Parece, mas não é. Alguns dias tem diferenças sutis, outros extravagantes... E hoje foi um dia diferente de todos que já vivi. 

Hoje eu te vi sob uma luz fraca, difusa, seu rosto de perfil tapado pela própria sombra. Sua arte no rosto, bem delineada. Pensei em amizade, sexo, diversão.

Você me chamou pra dançar. Talvez isso não tenha acontecido tão de repente, mas ali estava eu, me divertindo. E no pôr-do-sol não era só um sentimento, eram mil. Não sei explicar, fugiu de todas aquelas regras. Foi tudo tão diferente! O fato de ter surgido, tão puramente, da carne, estapeou-me o rosto. Era pra eu esquecer os meus conceitos, parar de acreditar em bobagens.

E do jeito que veio foi. Deixou buraco, deixou amor, deixou tristeza. Saudade é palavra inventada, é receita. Na realidade é conjunto de um punhado de outras coisas. Não há descrições. Só aquele pesar, que comprime o peito... E aí há o medo de permanecer eu mesmo, e esse é o pior de todos os medos. Por que vontade de sofrer de amor há de sobra. Mas a natureza não permite. E no fim só há lamentações. Lamentações de que as coisas aconteceram, mais uma vez, em tempos diferentes. Mas agora nem isso eu me arrisco a dizer que é sempre verdade.

O meu problema é simples, eu crio raízes rasas. Meu tempo é hoje, só hoje.


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