Meu sonho italiano


Imagem: "Stone Farm In Tuscany" by Joe Lanni

Minha vida é um livro e eu nunca fui muito de criar pessoas. Eu faço-as na minha cabeça, dia após dia. Trato alguém bem aqui, sou rude ali. Minha família é como o casco da tartaruga.

Um dia me apaixonei por uma garota e seu gosto era doce. Ela deitava-se em mim como se eu fosse um tecido inorgânico liso e fino, um lençol. Ela se esparramava. Acordava as 10 e pedia-me para retirar as remelas de seus olhos. Ria de mim, enquanto eu cantava no banho, com as luzes acesas ao meio-dia. Tirava as fotos mais bonitas do mundo e vivia no mesmo lugar que eu, no limiar. Gritava enquanto eu tocava, no quintal, todo fim de tarde. Era um ritual. O por do sol avisava veemente. Ele não pára.

Lutei e fingi para mim mesmo que o eterno existia. Contei a maior das mentiras para o maior dos meus egos. Olhei no espelho e falei: o encontro da luz e do tempo não é a matéria, é a vida. Errei. E assim ela partiu. Os recados na porta da geladeira caíram e se perderam sob a poeira ou sob o tapete, não me lembro bem. A casa de Florença sentiu-se mais só do que um escorpião em uma roda de fogo. Era uma entidade que nos completava. Quando uma parte da gente morre, a outra perece. Só os humanos tem destreza necessária pra impedir tal sina, e às vezes nem tem. Casas são apenas casas.

E o ar que eu inalava era seco e ardente. Um ácido que me corroia por dentro. E aquilo me deixou ébrio, por anos ébrio... Até eu ver que a realidade é o drama e a verdade é guinada. Sempre guinada. E agora só me restam memórias, estáticas e maleáveis. Capazes de me iludir o suficiente por apenas uma noite, e isso basta por hoje.

TOP 10 clipes mais legais de 2010

Eu listei os 10 clipes mais legais de 2010, na minha opinião. E resolvi postar.

10. Lady GaGa – Telephone (Feat. Beyoncé)

Pra falar a verdade, não é nem de longe o meu vídeo preferido da GaGa. Tem coisa muito melhor, como Bad Romance, Paparazzi, Lovegame e Poker Face. Mas Telephone foi o vídeo que mais "causou" em 2010. Pra mim, causou preguiça (o vídeo tem 10 minutos) e um pouco de nojo daquela comida engordurada do namorado da beyoncé (eca!). De qualquer forma, tem uma coreografia legal, que as bees tentam imitar na boate e o máximo que conseguem é dar bafão. 


História: Uma vadia sai da cadeia e se junta com outra vadia pra matar todos que as fizeram sofrer no passado (wtf). Ok, se juntam apenas para causar um genocídio em uma lanchonete de beira de estrada (daquelas que você pára quando está indo pro Espírito Santo de ônibus e paga 8 reais em um pão de queijo murcho) e aproveitam para fazer uma dancinha escrota no meio dos cadáveres. Não tem jeito, É HIT!

A música: A música já cheirava HIT antes do clipe ser lançado. Conseguiu um bom pico e muita repercussão.

09. Katy Perry – Firework

Dos três vídeos da era Teenage Dream, esse é o mais bonito. Primeiro por que é um show pirotécnico sedutor – sim, muito sedutor. Segundo por que o cenário é lindo. Terceiro por que tem um beijo gay.


História: Não tem muita história. Katy Perry está na sacada de uma construção estilo castelos britânicos do século 14 quando começa a expelir fogos de artifício dos seus seios. Aí de repente a cidade entra na onda e começa andar e cantar e pular, enquanto cada cidadão expele seu próprio firework pros céus e tudo vira uma grande festa. No meio disso tudo, tem um menino internado num hospital (provavelmente com câncer ou alguma doença mais grave) que assiste a um parto muito incomum, dois caras se pegando e uma menina fazendo a Mariah e pulando na piscina, esparramando água pra todo lado obviamente.

A música: Ao ser anunciada como single, muitos disseram que não ia manter o bom desempenho das músicas anteriores. Engano. Firework é mais um HIT da Katy Perry (o terceiro consecutivo do mesmo CD) e está há três semanas no topo da parada americana.

08. Rihanna – Rude Boy

Esse clipe foi uma voadora no pâncreas de todo mundo (fãs ou não). A música sempre foi legalzinha, tipo "ok", chiclete, grudaria rápido... Mas pra que tantas cores e tanta apelação, Rihanna? Quando o clipe saiu, a maioria achou tosco e incondizente com a música.


História: O Vídeo não tem história. A rihanna aparece com alguns trajes obscenos fazendo danças obscenas ao lado de garotos obscenos e aí temos um dos melhores clipes da vida dela. Rude Boy é o clipe mais trash que a Rihanna já fez, por mais bem produzido que tenha sido. A coisa é tão esquisita que não foge da comparação a um clipe da Ke$ha (Your Love Is My Drug). É claro que Rude Boy é infinitamente superior, apenas pela repetição excessiva da boca carnuda e vermelha de Rihanna no clipe. Ui. O que chama a atenção em Rude Boy é o figurino da Rihanna durante o Middle 8 (meio zebróide) e o cenário extremamente colorido.

A música: A música tinha tudo para não dar certo (tendo em vista que os singles do Rated R, penúltimo álbum de Rihanna, não tiveram desempenho excepcional). Mas seja lá por que, a música emplacou e virou o maior hit do CD. Ficou 5 semanas no topo das paradas americanas. Alguns dizem que rolou Jabá, mas enfim... Vai saber! Vale a pena rever o clipe.

07. Paramore – The Only Exception

The Only Exception é simples, sutil, coerente com a música e absolutamente perfeito. Esteja você apaixonado ou não, esteja você deprimido ou feliz, The Only Exception sabe tocar o seu coração.


História: Hayley está deprimida por que seu pai perdeu sua mãe (seja por que ela fugiu com algum safado ou seja por que ela simplesmente morreu) e desde então aprendeu a não amar ninguém, para assim não sofrer como seu pai sofrera. E com o passar do tempo ela encontrou muitos homens, mas nenhum conseguiu fazê-la se apaixonar. Eis que ela encontra sua "única exceção". Sério, o clipe tem um conceito lindo e nem tem a produção cara. É bonito por ser simples.

A música: Juntamente com "Misery Business", The Only Exception é a música de maior sucesso do Paramore mundialmente falando. Os fãs costumam reclamar dizendo que é "modinha". Que seja. Eu vou ao show deles em fevereiro e vou me esguelar de tanto cantar essa música.

06. Take That – The Flood

Não conheço muito o Take That, mas resumindo: é a banda do Robbie Williams e também é a Boy Band mais poderosa do Reino Unido. Esse foi o clipe do "comeback" deles com o Robbie. A princípio o clipe é meio sem sentido, mas no final fica legalzinho.


História: Cinco cinqüentões de roupinha branca justinha no corpo em algum lugar há muitos anos atrás disputando uma corrida de barco com outra equipe composta por cinco homens 30 anos mais jovens. A equipe dos homens jovens está sempre à frente da banda Take That, que, puff, coitados, já estão velhos demais pra acompanhar o ritmo dessa turminha de hoje em dia né??? É. Até a corrida acabar... Vejam!

A música: Não foi #1, mas como single de comeback teve um ótimo desempenho. O álbum, por outro lado, já vendeu litros, rios, mares, oceanos.

05. Ellie Goulding – Your Song

Ellie é linda, tem um sotaque britânico MARAVILHOSO, e um rosto de cantora humilde (tipo Duffy e Pixie, sabe?) que é impossível não se sentir agraciado com sua aparência. Esse clipe é pouco produzido, uma câmera constantemente móvel, com um ar de amador... Mas com uma sutileza e simplicidade que encanta. O cenário também é aconchegante; outono em algum lugar do Reino Unido.

 

História: Não tem. É ela andando e cantando e massageando o gato.

A música: Cover do Elton John. Uma infinidade de artistas regravaram essa música; mas até hoje, a regravação mais bonita que já ouvi, foi essa da Ellie. A música teve um bom desempenho nas paradas britânicas.

04. Cheryl Cole – Promise This

Ex mulher do jogador inglês Ashley Cole, e integrante da segunda maior girl band da história do UK (Girls Aloud), Cheryl lançou seu segundo álbum esse ano e o single de abertura foi Promise This. 


História: O clipe é meio sem sentido. Ela está num quarto e é surpreendida por um homem que abre a porta. A cena se repete umas dez vezes e então os papéis se invertem: ela abre a porta e o homem está no quarto. Aí tem uma ponte... E umas folhas voando... E uma coreografia Just ok. Ah, não vou ficar explicando esse clipe que não tem explicação. Assistam.

A música: A gente não sabe se ela tá cantando pro ex marido ou pro mosquito que lhe picou e lhe trouxe malária (doença com a qual ela quase morreu em meados desse ano), mas o que se sabe é que a música virou Hit. Barrou "Only Girl" da Rihanna, na semana em que foi lançada, e alcançou o topo da parada britânica. O bom da música é a ponte em francês "alouette ette ette". Impossível não viciar.

03. Willow Smith – Whip My Hair

Will Smith, gostosão de Hollywood, já está querendo aposentar e quer que seus filhos o sustentem pro resto da vida. Pra isso ele já enfiou o mais velho no Karatê Kid esse ano (e agora o menino é o mais novo queridinho da indústria cinematográfica americana, boa Will, é isso aí). Agora a filha dele assumiu uma personalidade super bem definida aos FUCKING 10 anos de idade e lançou um single. Que. Fez. Sucesso. Se Willow Smith fosse do Brasil, ela seria mais uma funkeira vadia apadrinhada por Tati Quebra Barraco. Sério, vejam a mórbida semelhança.

[SEGUE O LINK DO VÍDEO]

História: Willow entra numa sala de aula que mais parece um hospício, por que estão todos de branco, e o cenário todo é branco. Ela bota um som pra quebrar no seu estéreo e começa a sacudir o cabelo. O negócio é que ela vai molhando o cabelo dela na tina e sacudindo, e assim, colorindo o cenário. A criançada entra na onda e a zona começa. Bate cabelo pra cá, sujeira pra lá... No final tá tudo colorido. O conceito é até legal, mas a gente sabe que não foi ela que pensou no clipe. Infelizmente.

A música: Alguns acharam que ia ser hit eterno e ela ia alcançar o topo da parada americana, mas isso não aconteceu. Whip My Hair é apenas uma música que fez um sucesso relativo, fim.

02. Kylie Minogue – Get Outta My Way

Depois da orgia pacifista de All The Lovers, Kylie se conteve mais e lançou um clipe meramente dançante. Get Outta My Way entra nessa lista em #2 por que é muito, muito legal.


História: Sem história. Ela acorda deitada num painel eletrônico que vai mudando de cor. Esse é o cenário, basicamente. E convenhamos, esse painel ficou MUITO legal. A parte em que ela e os dançarinos se requebram na água também ficou boa. E as luzes acompanhando o movimento do corpo também ficou bonito. Resumindo: o vídeo é simples, mas foi BEM EDITADO. E isso conta muito.

A música: Flopou até na Austrália. Mas desde "WOW" não escuto uma música dela tão animada e dançante. Eu gostei!

01. Rihanna – Only Girl

Podem fazer a Aretuza e vomitar quando verem Only Girl em #1, mas antes de lembrem-se de que é apenas minha opinião, e por favor, entendam. OG entra em #1 por que, quando eu vi o clipe, eu simplesmente ODIEI. Achei ridículo. Mal feito. Tosco. E eu nem gostava da música. Mas aí o tempo passou e um dia eu revi o clipe e me apaixonei. A tonalidade vermelha. A fotografia. O figurino da Rihanna. O cenário. As flores, o campo, a árvore, o balanço, o céu, os balões, o rio. O clipe arrasa no conceito. É o melhor clipe da Rihanna na minha opinião.


História: Rihanna está sozinha no mundo. Mas é apenas uma metáfora: ela está sozinha por que ninguém mais importa, ela não se importa. O eu lírico pede: "want you to make me feel like I'm the only Girl in the world" ("quero que você me faça sentir como a única garota no mundo"). E é daquela forma que ela quer se sentir: a única no planeta. E o clipe é isso: Rihanna sozinha, livre. A liberdade é expressa quando ela abre os braços pra cantar, quando ela rola pelo campo, quando ela balança nos céus, e quando ela pula à frente dos fogos que explodem atrás.

A música: A música é grower, ou seja, você vai acostumando. Eu só viciei mesmo depois de muito ouvir e muito atestar "af, que música chata e entediante". Quando lançou, não só eu, mas vários outros, afirmaram que não faria muito sucesso. Ledo engano meu. Demorou, mas Only Girl emplacou e atingiu o topo, ficando em #1 lugar por pouco tempo, mas chegou lá. Até o segundo single, que veio DEPOIS, chamado "What's My Name", alcançou o topo ANTES de Only Girl. Vai entender. Only Girl é aquele tipo de música que precisa pedir licença, é tímida, não entra de uma vez. Mas quando entra, o difícil é sair.

Lobos dentro de mim


Plantei umas sementes em mim, elas cresceram, e formaram uma árvore que tive que arrancar pela raiz. Arranquei com vontade, e me senti oco e leve; vazio e feliz. Tive momentos de descoberta, de fato. Momentos em que eu fazia qualquer coisa banal, como escovar os dentes ou me preparar para um banho – e descobria que de nada adiantaria tanta saliva, tanto suor, tanto lápis (sem borracha!). Era uma descoberta maior ainda perceber que eu era capaz. Foi como dar um voto GIGANTE pra mim mesmo. Eu falo demais, pensei. Obteria o mesmo resultado.

Eis que aquilo que eu tentei cultivar não deu certo. E agora, me incomoda. Tira-me os sonos. Entra nos meus sonhos. Invade meu mundo sem perceber, apenas existindo...

A Adélia Prado fez um poema nesse livro novo dela, chama Alcatéia.

Alcatéia - Adélia Prado

Você reza demais, Luzia.
Que aborrecimento esta sua pressa
em fugir pro jardim com seu rosário.
Quem me dera, mesmo, dia e noite rezar,
estou oca de medo.
É admirável que com palpitações e boca seca
eu suba escada para ver do muro
quem fala tanto palavrão.
Rezar demais é ter rezado nada.
Invejo o bruto,
o que enfia tudo no de todo mundo
e não tem medo de Deus.
Quem me dera os lobos fossem fora de mim,
bastava um pau e os afugentaria.
Mas seus fantasmas é que uivam inalcançáveis.
Só a oração os detém,
a que ainda não sei como fazer.

Eu rezo, mas não sei rezar. Eu não sei espantar meus fantasmas. Eu nem sei quem são.

Se alguém puder nivelar minha brutalidade, terei me esforçado em vão? O povo age como lobo, como borboleta... Mas não age como gente.

Injustiça é se eu pensar que sou vítima de alguma coisa. Só posso agradecer, nada mais.

Justiça. Paz. Amor. Fraternidade. Luz.

Nada sei –

Sempre tem quem saiba mais que a gente.

Noite.