A tela do meu computador está acesa e é a única fonte de luz que ilumina o meu quarto. As lembranças de um encontro que parecia impossível, retumbam na minha mente dizendo "durou pouco demais". Sim. Acabou sem deixar cansaço. Acabou sem avisar, sem permitir nem uma promessa de futuro concreta. É tudo tão incerto...
Eu estava ouvindo música no ônibus hoje (eu sempre faço isso - minha mãe fala que um dia roubar-me-ão o celular e foder-me-ei) e sabe aquele tédio tão egoísta que te faz desejar uma tragédia? É o desejo de ter algo com o que sofrer, algo pra chorar, algo pra mudar sua vida. Ou então alguma coisa pra te chamar de volta, te apertar na vida, fazer você se virar. É muita mamata minha. Esse egoísmo é natural. Só a gente tem isso. Por que a gente nunca passou fome, nem frio... E sempre teve onde morar. Só por isso.
E coisa pra sofrer tem aos montes. Continuo precisando mais de matéria do que de alegria. Nunca estive tão carnal. As vezes penso que em estados de extrema fome, seria capaz de comer alguém, cru, vivo. É uma coisa meio Clarice Lispector isso, (mas ainda não é tão sinistro e chocante como comer uma barata). Do que eu preciso, só matéria me satisfaz. Meu coração não grita de carência; minha pele grita. Exige.
Olhar para o Céu me deixa criativo. Tenho saudades das luzes que eu via no trajeto de volta do colégio quando estava na sexta série... Dos amigos que fiz no Colégio Promove, e nunca mais tive contato... Do cheiro do macarrão que a minha empregada fazia quando eu tinha 10 anos... Das brigas com meu primo mais velho... De ver o velocímetro do vovô chegar à 135km/h na BR 381... Das festas juninas no colégio Tiradentes... De jogar TRUCÃO em Araxá até 00h (mesmo sem saber NADA! KKK) ou então de fugir do hotel em Araxá mesmo, subir numa árvore de 5 metros, cair, machucar, e depois perder o chinelo na estrada... Sinto falta de gritar que o Brasil é tetracampeão sem saber o que aquilo significava... De nadar no clube do Retiro... Sinto falta de Santa Mônica também, e só Deus sabe o quanto eu queria lembrar mais das viagens à Santa Mônica, a família toda, todos juntos... Lembro de tentar furar uma onda de trinta centímetros e de procurar siris na areia da praia. Lembro de brincar de mágica (rodando o balde e não deixando a água cair) e de me espantar com a coragem de minha tia Adriana, que jogava pingue-pongue na chuva, apenas de biquíni.
Sinto falta de brincar na loja da Suzana em PL... Ou de pular carnaval vestido de Aladin... Até de fugir da enchente, eu sinto falta, acreditam? Era tenso, as ruas enchiam muito de água e ficava impossível transitar. O ribeirão transbordava MESMO. Sinto falta de vagar independente (aos 7,8 anos) pelas ruas de PL, me achando o tal... E de andar de bicicleta com meu pai nessas mesmas ruas. Minha bunda doía.
Quero voltar para o dia em que li Harry Potter pela primeira vez. É isso. Lembranças se misturam com a realidade o tempo todo. É clichê. Mas é assim que eu vivo. Sou um eterno saudosista da minha infância querida...
Não sei se agüento mais um semestre sem o meu sonho. Eu ainda sou incompleto, meus amigos sabem porquê. Até quando? Até o dia em que eu finalmente aprender que isso não tem valor? Sou tão teimoso.
O pra sempre acabou. E estou tão preso ao lugar que pertenço...