O mesmo recalque de sempre.



O desabafo hoje é sobre as nossas prioridades.

A impressão que se tem é que não nos apaixonamos mais. Pra quê conversar, pra que se conhecer melhor. Frase: 'O amor hoje vem do sexo'. Se isso é ilusão ou não, se dá certo ou não, se é problemático - pros miolos - ou não, aí já são outros 500. O negócio é que tem gente demais acreditando nisso. E essa sensação não é isolada, não: está em todos os mundos, todas as tribos. Não há paciência. Não há tempo. Só há a urgência do contato físico. Suprir a carência virou uma necessidade tão básica como tomar água. Nós já não nos suportamos mais (nem sei se isso foi possível algum dia), precisamos de alguém pra dividir o fardo. Porém, pra mim, a busca é feita no lugar errado, da forma errada; imediatista. E o que se encontra é quase sempre efêmero. 

Sempre há exceções. Sempre dá certo pra alguém aqui ou ali. E sempre há quem acredite no contrário e consiga provar. Calma lá, pra cada um é de um jeito, eu sei... Estou apenas compartilhando o que vejo no geral. Por que o que vejo é um mar de almas solitárias, e eu lá no meio. Ninguém se enxerga: é escuro demais. Ninguém se escuta: a música é muito alta, deixa até vestígio quando se emerge e alcança a praia. Um zumbido que nos impede de ouvir até nosso próprio som.

A questão, pra mim, é que nada disso é inconsciente. É um escolha que fazemos. E é estranho por que, por um lado, ela faz todo o sentido. Respalda-se no pensamento livre, na liberdade sexual, na impressão de felicidade derivada do desprendimento. Então é de propósito. Faço por que quero. Mas não há satisfação. 

O nosso discurso é até interessante. Atributos físicos não são mais importantes; mas são notados primeiro. E são ressaltados primeiro. "Quem quer apaixonar-se?" quase sempre conflita com "Quem quer ser feliz?". Por que há uma associação esquisita, que eu faço, e muita gente por aí também faz, e eu reconheço, não sei desfazer e nem explicar o porque acredito tanto nisso, de que felicidade e liberdade andam juntos. E isso não é um atestado de descrença ao relacionamento, veja bem. É uma descrença à vontade, ao objetivo. Que, por si, já existe em oposição ao instinto e ao desejo, entidades cada dia mais e mais livres.

Não vou deixar de ser realista: é o que dá pra fazer. A gente vive e se relaciona do jeito que "dá", eu sei. Entendo que os tempos são difíceis, que as oportunidades de se aproximar são poucas, que a hora é curta, o minuto ínfimo.

De qualquer forma são apenas impressões minhas. Mas no final só queria dizer que "quem tá cheio de amor pra dar" tá fodido. Só isso.

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