Ao sair de casa



E aí que o medo finalmente bateu. Não sei se bateu agora, muito provavelmente estava latente há um bocado, desde que toda essa possibilidade de viajar pra outro país começou. E a cada dia se tornou mais verdade, assim como o medo foi crescendo, até eu perceber sua presença. Incrível como uma coisa tão grande pode passar despercebida por tanto tempo dentro da gente. Talvez por que eu realmente acreditava (e uma parte ainda acredita) que era capaz, adulto, que não precisava de ninguém. Acreditava que eu era forte, independente. Pois agora meu eu maior pensa o contrário. São tantas inseguranças. E inseguranças tão imbecis que me sinto um adolescente. Temo não conseguir fazer nenhuma amizade, nenhum aliado. Temo não gostar das pessoas, ou as pessoas não gostarem de mim. Temo fazer inimizades. Temo não conseguir acompanhar as aulas, o ritmo, o novo país, a nova cultura. Só temo.

Engraçado que no início só havia euforia. A vontade de expandir, de criar, de mudar, de amar, de sofrer, de nascer de novo. A vantagem de poder apagar tudo que você é e foi para começar do zero. Todavia, hoje há o medo de ser infiel à si mesmo.

Admito que a ansiedade pela mudança se fortaleceu devido ao cansaço da vida, cansaço dos amigos, cansaço da rotina. Quando uma perspectiva de rompimento tão palpável e alcançável como esta surgiu, permiti que a insatisfação tomasse conta do meu corpo e mente. Julguei-me desnecessário e independente aos outros. Disse: que bom que vou, por que não aguentaria mais ficar.

E menti. Por que a vida real é boa demais. Há dor e amor. Há emoção e tédio. Porém a cada risada, a cada pequeno gesto ou pequena frase que arranca um sorriso no rosto - a cada mínimo instante de leveza - ela vale a pena. A realidade vale a pena. E não sei até que ponto conseguirei viver longe dela.

A ilusão foi pensar que eu levaria tudo que sou comigo. Engano. A minha maior parte fica pra trás: é minha mãe, meus amigos, minha faculdade, meu trabalho, minha casa. O que vai é o casulo vazio, apenas "ligado" a tudo que fica por um fio inquebrantável, pronto pra se encher novamente de coisas boas e ruins, se encher novamente de vida.

Por hora, não posso me importar com o vão que me separará. Quero sair de casa.

Um comentário:

Obrigado por comentarem!