Manifesto da Solidão

  
Solidão não é sinônimo de dor. Falta-me paciência para a indecisão (sempre faltou). Imaturidade aufere muitos olhares, julgamentos, interpretações diversas. Podem achar que sou louco, mas sou de pedra; fui batizado assim. Dei um passo no escuro e me fodi. Agora eu conto as horas pra findar o mês, o jogo, o sofrimento, sem dar-me conta de que nada o tem, tudo é e nem sempre dura. 

Solidão não é amarga. É propulsora da arte. É necessidade. Compõe esforço, luta e vitória. Quando me lembro de você, discirno um paradoxo. E é-me difícil escapar de uma comparação medíocre: como é possível dois corações baterem juntos em mundos tão diferentes? Você está sentindo, mas não consegue explicar. E por favor, não me ajude a desvendar esse mistério. Prefiro viver considerando-nos apenas um erro experimental. E eu sei que já o cometi várias e várias vezes com outros. Deixa-me conviver com meu ego, já é difícil o suficiente, e além do mais não suportaria outras noites como esta.

Solidão não é castigo. Sem isso eu não sou ninguém. Com alguém eu não sou feliz, e com você eu me dispus a abrir mão do meu universo. Meu anjo é forte, mas afunda como um obelisco de ferro em lençol freático. Tive fé. Algo me segurou aqui naquela manhã e sinto que houve uma conspiração universal para me fazer crescer.

Solidão é, enfim, vida. E qualquer fuga tem um só fim. Miseráveis aqueles que não sabem ainda como lidá-la. Miserável eu que não a conheço em outra forma e a mantenho só. Alguém me diga se há solidão partilhada, pois o que eu vejo me torna cético até a raiz. Preciso esquivar-me dos meus rancores.

Minha solidão é minha e de mais ninguém.

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