Plantei umas sementes em mim, elas cresceram, e formaram uma árvore que tive que arrancar pela raiz. Arranquei com vontade, e me senti oco e leve; vazio e feliz. Tive momentos de descoberta, de fato. Momentos em que eu fazia qualquer coisa banal, como escovar os dentes ou me preparar para um banho – e descobria que de nada adiantaria tanta saliva, tanto suor, tanto lápis (sem borracha!). Era uma descoberta maior ainda perceber que eu era capaz. Foi como dar um voto GIGANTE pra mim mesmo. Eu falo demais, pensei. Obteria o mesmo resultado.
Eis que aquilo que eu tentei cultivar não deu certo. E agora, me incomoda. Tira-me os sonos. Entra nos meus sonhos. Invade meu mundo sem perceber, apenas existindo...
A Adélia Prado fez um poema nesse livro novo dela, chama Alcatéia.
Alcatéia - Adélia Prado
Você reza demais, Luzia.
Que aborrecimento esta sua pressa
em fugir pro jardim com seu rosário.
Quem me dera, mesmo, dia e noite rezar,
estou oca de medo.
É admirável que com palpitações e boca seca
eu suba escada para ver do muro
quem fala tanto palavrão.
Rezar demais é ter rezado nada.
Invejo o bruto,
o que enfia tudo no de todo mundo
e não tem medo de Deus.
Quem me dera os lobos fossem fora de mim,
bastava um pau e os afugentaria.
Mas seus fantasmas é que uivam inalcançáveis.
Só a oração os detém,
a que ainda não sei como fazer.
Eu rezo, mas não sei rezar. Eu não sei espantar meus fantasmas. Eu nem sei quem são.
Se alguém puder nivelar minha brutalidade, terei me esforçado em vão? O povo age como lobo, como borboleta... Mas não age como gente.
Injustiça é se eu pensar que sou vítima de alguma coisa. Só posso agradecer, nada mais.
Justiça. Paz. Amor. Fraternidade. Luz.
Nada sei –
Sempre tem quem saiba mais que a gente.
Noite.
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